Confira o texto na íntegra!
 

O carnavalesco da atual campeã em Uruguaiana, Bambas da Alegria, Júnior Schall, que também é o Diretor de Carnaval da Estação Primeira de Mangueira, em tom de desabafo, deixou uma mensagem subliminar em seu perfil oficial no Facebook. Júnior, no legítimo modelo de escrita de um enredo, faz uma crítica construtiva à atual situação que passa o Carnaval de Uruguaiana.

Confira na íntegra:

"NA FRONTEIRA DOS SORRISOS... EU APRENDI A SONHAR COM BEM POUCO!

Na verdade, por lá eu sempre tive a fortuna! Invisível por instante, mas que não escapa a um breve olhar mais atento. Estou escrevendo sobre aquilo que por tantas vezes nós perdemos, que nos escapa por entre os dedos, sem que sequer prestemos atenção. A felicidade genuína que advém dos momentos mágicos que conquistamos com bem pouco.

Em Uruguaiana, por quase uma década eu renovei a minha fé nesta crença, cultuando o Carnaval fora de época da fronteira. Bálsamo e porto seguro pra se provar que ainda munidos de alma, paixão e criatividade, podemos fechar os olhos, se fantasiar um bocado e cantarmos felizes na passarela!

Cantar, sambar e sem cerimônia alguma se tornar Rei ou Rainha, herói maior numa maravilhosa festa popular. Por quase uma década me ensinaram a sonhar, me deixaram "brincar" e brincar, me mostraram que a Presidente Vargas de lá também tem alegria e vibração! Tudo isso apostando num sorriso que para mim no início, eu confesso, era um tanto inseguro e irregular. Coisa minha, coisa de quem se viciou nas escalas gigantes do eixo de Rio e São Paulo, aliás, esses três pontos de observação e integração hoje me fazem viajar por universos tão particulares, singulares e plurais ao mesmo tempo, e disso faço algo valioso que sei muito bem aonde guardar.

Mas ver brilhar (sem o brilho comum ao Carnaval), delirar (sem a alegoria infinita banhada de um mundo de luz) e chorar pelo simples fato de participar... eu vi da forma mais linda na fronteira, e não em uma, mas em todas as Escolas de lá.

Hoje (já sei da crise, já sei de tudo que se tem pra dizer e praguejar!), vejo o brilho distante, errante e sem saber se ainda vai me chamar pra sambar, se ainda vai me fazer correr para cobrir a alegoria que dorme na chuva, mas que EU (NÃO SOZINHO), NÓS E ELES, ELES TODOS, juntos, conseguiremos aprontar pra desfilar.

Me dá uma saudade e um aperto no coração, uma sensação estranha sei lá... uma angústia em pensar que aquele coração que pulsa pelo Carnaval simples, mas transbordando de alma, bate tão devagar. Já sei dos problemas, mas e lá atrás quando menos ainda se tinha (digo do que é físico), pois o espírito de realizar, eu tenho certeza, era até maior.

Hoje não há cor que eu vá ovacionar, há a festa que eu vou cobrir de desejos, de vida e alegria, que vou brigar e provar que é do povo, e por isso até pode agonizar, mas nunca morrerá!

É uma ironia naquilo que faço há quase duas décadas como ofício, que tenha sido lá tão longe da Meca do Carnaval, o lugar aonde de fato eu aprendi, que um bloco mesmo que da Miséria, seja o mapa e ao mesmo tempo o baú de um tesouro que hoje todos nós, sem exceção precisamos tanto... o amor!

Pela fantasia, pela alegria, pela arte popular de celebrar a vida! Travestida pelas bandas de lá com quase nada... ou melhor, com quase tudo, pois pelos olhos de tantos que sonhavam eu vi sorrir a alma de um folião feliz.

Obrigado Uruguaiana!"