Confira também a classificação parcial, segundo o colunista.


Com todo carinho e compreensão a quem ainda vai desejar boas festas durante esta semana no Facebook e pares, nas esquinas, nos bares e encontros mil, mas acho que há um atraso, um leve anacronismo, falta sincronia com o tempo, com a história e com a vida. Ávida vida da Sapucaí. Festa é o que não faltou nesses dois dias. Quem não foi, perdeu. Perder o grito de guerra apaixonado de um Zezo inflamado, é não ler o prefácio. Perder a Renascer mastodôntica, é deixar de lado o regozijo da transa. Ignorar o trajeto lancinante Parque São Vicente-Sapucaí, é não abrir o coração ao imponderável. Ah, mas ainda é dezembro. Ah, está longe. Ah, só escola da Série A. A de amor pela festa. A de abnegação para fazer tudo acontecer, apesar do desamparo galopante. A de alegria, não só da Zona Sul. Zona carioca, cosmopolita. Zona zona, eventualmente. A festa vem!

Terra de Santa Cruz. Nosso nome. De sonoridade e métrica mais felizes que Pindorama e Brasil. Época boa, das tribos e seus caciques. Dos índios sem calça jeans e Ipod. Menos guerras de poder. Um cacique, o eleito, o ungido, o que tem no sangue a tradição de liderar. O cacique governando a tribo no conceito inalienável de comunidade. O bem comum. Professor Zezo é um líder nato, o cacique, e por isso nos brinda com um discurso combativo, de brios, emocionante e encaixado com o que os índios deveriam ouvir e praticar. Infelizmente, talvez potencialize algo que não sei se é possível germinar ou estornar. "Uma escola é a catalizadora de um bairro, de um lugar" "Questão de honra darmos o nosso melhor". Apenas frases para um insensível. Ensinamentos para os mais aplicados. Sei nem se a comunidade se entende grande, ou quer-se grande. Mas ficou para quem quiser aprender. A mais longeva das escolas do Acesso A veio com pinta de quem não está apenas gravitando, de quem depreendeu a didática do professor. Os quesitos estão bem entregues. A Bateria da Santa Cruz evoluiu bem com o Riquinho, percepção geral dos especialistas e até dos leigos (eu). O casal sincrônico, bons talentos do Salgueiro. Comissão do Carlinhos Muvuca pareceu modesta em coreografias. Mas apresentou um trabalho em desenvolvimento satisfatório para um ensaio de Sapucaí em dezembro. Destaque para a vestimenta do grupo, muita elegância e solenemente respeitosa ao público presente. Uma fantasia sempre cai bem, no amor e no ensaio técnico. O samba foi bem cantado. O refrão, talvez com criatividade não rica, é funcional, agradável, vibrante. Erros de evolução e tal, algo a ser compreendido. O corpo inicial da escola se fez melhor no canto e na organização. Já vimos ensaios inferiores da Santa Cruz, este foi bom e deixou a sensação, não sei se para todos, que a escola está dando um passo à frente. A diretoria mudou a equipe de Carnaval quase toda e parece que caiu para cima.

Renascer de Jacarepaguá, Renascer de todos nós. Por uma noite todos queriam uma Renascer para chamar de sua. Um renascer do samba. O super Cláudio Russo, gênio, e o egrégio Moacyr Luz fazem um bem danado. Claro, com a colaboração exuberante desta feita de Teresa Cristina. Renascer de sambões retumbantes, chegou ao elixir. Resvalaram ou passaram perto do que poderia ser o Nirvana dos sambas, a Renata Vasconcelos das melodias, o Pelé das letras e a Kátia Paz das presidentes. Por lá Zezo cacique, aqui uma Kátia Paz Pajé. Com sua mochila nas costas, andando pra lá e pra cá, parece ter todos os remédios para livrar da morte, todas as curas para os males, a sabedoria para indicar caminhos. Desenrolar de bandeiras enroladas. Uma depuração de ambiente. No clichê barato mais verossimilhante da história Carnaval, o samba da Renascer foi 80% do sucesso. O desfile técnico foi muito bem sucedido. Mas o samba foi maior que a escola. Não foi só isso, porém. Diego Nicolau e Evandro Malandro, a melhor dupla de cantores que já vi, seja na ausência de vaidade, na combinação de vozes, de tons que se combinam, cada um com sua hora de brilhar mais, um atuando pelo outro. Simbiose nunca foi tão simbiótica. Parceria nunca foi tão parceirante. Injusto seria dizer que são um só. Eles são dois. Dois estupendos. Dupla que fecha. Um casório feliz, de papel passado, presente e futuro. Falando em dupla, o casal da Renascer. Amanda e Thiaguinho. Sei bem que menina Amanda é jovem, bem jovem, conhecida também como novinha. Mas não está rolando mais chamar de "caçulinha". 2014 foi o ano de consagração de Amanda e Thiago. Os dois voaram, estiveram entre os top´s do grupo, talvez pela primeira vez, e agora responsabilidades se implicam. Um dos melhores casais precisa provar que está entre os melhores. E mostraram. Linda fantasia dos dois. Apresentação sincrônica, fluente, simpática, sorridente. Ótima para o ensaio. Comissão de Frente não apresentou muita coisa, e tem direito de fazer isso até. Não ganha simpatia. Mas é melhor simpatia ou nota dez? Pode até ganhar as duas ainda. As alas foram impulsionadas pelo sambão, otimamente executado, o que deu boa fluência, bom ritmo, expressivo canto e na organização foi satisfatório. O samba bendisse a Renascer.

Ofertando flores em vida a um Nelson, a Inocentes, dentro da Série A, se apropria do homenageado e se faz um sargento, daqueles concursados. Não veio subindo os degraus da hierarquia. Apareceu de repente, na lisura do mérito. Não tem lá vasta história no quartel, mas se fez valer pelo labor, ímpeto e dedicação. Mesmo sem extenso lastro, é respeitada por pertencer a um grupo das que sabem como proceder, das que estão entre as boas. Inocentes, com seu calor que socorre, a cada ano mostra que a experiência do Grupo Especial valeu de alguma coisa. Há um sentimento coletivo de organização. Aquelas palavras de Zezo aos seus componentes são melhor acolhidas por aqui. É uma escola grandiosa em contingente, consciente do que deve fazer, mais comprometida. Não é consensual, possivelmente é polêmico, mas a Inocentes demonstra, dentre todas as seis que já ensaiaram na Sapucaí, que é a escola com mais jeitão de Especial. Parece cascuda. A representante de Belford Roxo tem ali um conglomerado pronto para a doutrinação. E como um bom sargento, a Inocentes veio mostrando quem é quem pra comandar o pelotão. Meteu logo um tripé decorado e grande. Soldados deveriam prestar continência para evitar crime de insubordinação. O casal já fantasiado, como se fora um desfile de verdade, foi uma sirene do despertar, para os soldados acordarem àquele momento. Ademais, o sorriso da Porta-Bandeira Priscila Costa foi como um brasão militar, reluzente, suntuoso. Simpatia a toda prova, acompanhado do talento no bailar, assim como o seu companheiro mestre-sala Douglas Valle. O cantor Nino do Milênio foi um Cabo, mostrando o caminho das pedras aos recrutas, com prontidão e afinco. Expoente nesse ensaio Nino. Mostrou o talento de sempre, simplicidade e viço para levar o samba até o final sem desgaste, sem viés de queda. Inclusive, agrada muito samba, apesar de não se destacar nas análises em geral. Parece um samba poético sem ser blazer, bonito sem ser pretensioso. Obra que soube introduzir a brincadeira da ascendência militar: "digno da mais alta patente" "vem prestar a continência". Todas passagens de Sargento são bem representadas pelo samba. Inocentes sem dolo no desfile técnico.

Classificação:

1º - Renascer de Jacarepaguá
2º - Alegria da Zona Sul
3º - Inocentes de Belford Roxo
4º - Santa Cruz
5º - Unidos de Bangu
6º - Em Cima da Hora