Confira o ranking final do comentarista.
Ah, o espírito do carnaval já nos permeia. Passam as baianas e casais purificando a Sapucaí, passa a Campeã, e a Marquês vai ganhando as cores da folia na semana mais longa do ano, possivelmente. Os ingredientes, em comunhão e devidamente fermentados, nos fazem ansiar. Um aguardo até cruel com os sambistas reais, das quadras e dos barracões. O piso branco, as cadeiras das frisas, as cabines com as plaquinhas dos jurados, o público na contagem regressiva, eu visitando barracão diariamente, preocupado com um, trocando idéias e aprendendo em outro. Inclusive, queria que a vida fosse feita num barracão atrasado desses. Quem dera pudéssemos reerguer as estruturas em um dia, emadeirando nossas relações em questão de horas. Decorar a vida com amor, na velocidade das paixões, encaixando as esculturas da alegria plena na esquina das avenidas, lépido, num desespero lúcido. Inconseqüência eivada de calculismo. Tranquilidade conquistada na expertise dos sempre alarmados. Gostaria de ser assim. Que venha a festa!
UNIDOS DE VILA ISABEL - “Rolo compressor hoje só Vila e Beija-Flor” Palavras do presidente Wilsinho Alves, pouco antes do ensaio técnico DA Campeã. Júnior Schall, da Comissão de Carnaval, endossou o orgulho da escola: “A Vila tem alma”. Uma auto-afirmação válida em tempo de questionamento. O pré-carnaval passou, e agora a Vila tem a missão, embora ela talvez não tenha esse sentimento, de mostrar que continua forte - a mesma dos últimos anos. A nós, a idéia clara de uma escola que precisa renascer, vir das cinzas para lutar pelo título. A eles, apenas a Vila, que virá brigando por sempre vir. Sabemos dos problemas, de tudo que se passou, mas nessa somos leigos. O ensaio técnico da Unidos de Vila Isabel mais uma vez provou que o trabalho de comunidade da azul e branco é tão consistente que as dificuldades administrativas não podem abalar. Comparação iniciada por Wilsinho, e seguida por mim: A Vila teve até mais méritos, não técnicos, que a Beija-Flor. A Vila Isabel desafiou a psicologia. Desfilou muito bem, diante de tudo. E mais, um trabalho de harmonia que não conta com um samba tão exuberante, como contou nos dois últimos anos. Desfilar sendo guiado pelo samba é flutuar num toque divino. Desfilar tendo que carregar o samba é decolar com um boing. Haja arquitetura, planejamento e trabalho. A 28 de setembro vira apoteose, e a brincadeira ganha contornos de seriedade, transposta à Sapucaí em forma de 10. E neste ensaio mais uma vez, a escola mostrou que tem um dos melhores chãos da Sapucaí, é irrefutável. Canto uniforme, com acentuações naturais nos refrões. Com destaque, além dos ótimos refrões, à segunda do samba no trecho final – Com o negrinho do pastoreiro/ Protegendo campos e pinheirais/ Unidos, guardiões da vida/ De corpo e alma nós somos a Vila. Curto a linha melódica dessa parte. Não sou fã da primeira do samba. Arrastada em dados momentos. De modo geral, gosto do samba e acho que funciona. No talento do André Diniz - mais uma vez irretocável na letra, e, para mim, melhor compositor do carnaval – é 10 na caixa, numa dessas. Na Comissão de Frente, Alex Neoral, craque juramentado, mistura requinte e simplicidade. Passa a ideia com clareza, bem limpa. Não é um pirotecnicista, mas não é um simplório. Equilibra suntuosidade com genialidade comum, paradoxo alcançado pelos mestres. A Comissão de Frente da Vila Isabel parece pronta aos prêmios e às glórias. Coreografia complexa, bem trabalhada e com boa sincronia. Vamos aguardar a indumentária e o tripé. O canto da Vila começou muito forte, empolgado. Caiu de rendimento, a partir do setor 5. Mas se estabilizou e manteve a uniformidade. Evolução também linear. Espontânea sem ser esfuziante. Porém, digna de 10. Exceção feita às duas ou três últimas alas que se embolaram e causaram uma quebra de coesão. No mais, tudo muito redondinho e ordenado. Não, não foi o rolo compressor imaginado. Mas foi ensaio de uma escola consistente, firme em sua condição de uma das melhores do carnaval hoje. Algo me diz que a Vila volta entre as 6 e não repete a Mangueira em 1999 - Campeã no ano anterior e fora do sábado das campeãs do ano seguinte.
RANKING FINAL - GRUPO ESPECIAL
1 - Beija-Flor
2 - Unidos da Tijuca
3 - Mocidade
4 - Grande Rio
5 - Salgueiro
6 - Vila Isabel
7 - Portela
8 - Ilha
9 - Mangueira
10 - Imperatriz
11 - São Clemente
12 - Império da Tijuca
RANKING FINAL - SÉRIE A
1 - Estácio de Sá
2 - Viradouro
3 - Caprichosos
4 - Unidos de Padre Miguel
5 - Renascer de Jacarepaguá
6 - Inocentes
7 - Império Serrano
8 - Porto da Pedra
9 - Cubango
10 - Rocinha
11 - Santa Cruz