Comentários de Luis Felippe Reis.


IMPÉRIO DA TIJUCA – O terremoto proposto no samba do Império da Tijuca foi no mínimo adiado, quem sabe até cancelado por este ano. Na Escala Richter, não foi captada grande energia sísmica. Alívio para chilenos, japoneses. Lamento para os cariocas e amantes do carnaval que torciam por um Império que botasse o braço na mesa com altivez. Uma sentada na janela sem licença. Expectativa positiva transformada em realidade a ser analisada aqui e por aí. A verde e branco não evoluiu. A mim, pareceu uma escola com receio. Encarou a obrigação de fazer bonito. Quem faz por obrigação, como num quartel, faz sem amor. A liberdade e a felicidade possuem de modo inexorável a espontaneidade em sua natureza. 2 + 2 isso aí. O medo nada mais é que um desconhecimento. Tememos o que não entendemos. O Império não entende o Grupo Especial, ainda. No domingo, dia 2, pode ser que entenda. Hoje não! O Império que deu sacode em 2013 não apareceu, não vi, era outra escola. Mas aponto o dedo sorridente ao notar as carrancas - usadas na Comissão de Frente do ano passado – emoldurando o ensaio técnico de cabo a rabo. Exalto o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Peixinho e Jaçana, pela fantasia oficial do Carnaval 2013. Respeito e carinho ao público que foi à Sapucaí. E claro, a ótima apresentação dos dois, como sempre. A destacar positivamente também, a Comissão de Frente, de Júnior Scapin, apresentando-se com a coreografia oficial de desfile. O trabalho coreográfico é bem denso, Comissão bastante expressiva. Mas faço um adendo aqui da falta de canto dos componentes do grupo. Em determinados momentos o samba não foi cantado. Não que haja a necessidade de cantar o tempo inteiro. Mas nos instantes em que a coreografia é menos rebuscada há espaço para o canto. É sempre bom cantar, nunca é demais. Hino é hino. Muitas alas coreografadas dão sempre um efeito bacana, mas coreografia não imuniza ao cantar. Isso é velho. Antigo. O camarada que está coreografado precisa cantar. A ala da capoeira gerou uma expressão imediata de negação em quem estava acompanhando. Confesso até um inconformismo. Muda. E as outras cantaram pouco. A cabeça da escola cantou o samba integralmente, e o que se viu foi a promessa de um bom canto, mas houve um declínio. Mesmo assim, não achei o canto dos piores, tirando as alas coreografadas. A evolução ficou devendo. Não em organização. O Império veio organizado, certinho, sem falhas em evolução aos meus olhos. Mas não se encantou, talvez pelo medo de se empolgar demais. Medo de errar tira o ímpeto de vencer. É o treinador retranqueiro que joga pelo 0x0. O Império veio pelo empate, veio para cumprir tabela. Faltou imergir no samba decantado por todos como dos melhores. Inclusive, o samba-enredo era o item que sempre separou o Império da Tijuca da equidade na comparação com Inocentes e Renascer, ascensionadas nos últimos dois anos. O samba dava ao Império uma chance a mais de não cair no cruel retrospecto do subiu-desceu. Não consigo mais distinguir a escola do morro da Formiga às outras duas. Assim como Renascer e Inocentes, o Império é o candidato mais forte ao descenso.
 
SÃO CLEMENTE – Incoerente ao nome, a preto e amarelo foi inclemente ao Império da Tijuca. Diferente da verde e branco, não teve medo. Já robusta, não tem receio de ser comparada com as grandes do carnaval. É claro, não é, ainda, uma escola dos sacodes. O samba da São Clemente, a meu ver mais fraco do Grupo Especial, funcionou muito melhor que o da escola anterior. Igor Sorrisos. No plural. A São Clemente sorriu. Os dentes de Igor foram vistos em outras bocas pretas e amarelas. Uma escola que passou feliz, evoluindo de maneira descompromissada, ao estilo dela. A direção não quer irreverência, mas a identidade é tão latente que ela se faz presente nos ensaios, não tem jeito. Para quem busca afirmação e consistência, está de bom tamanho. Caminho certo para manter-se por mais um ano e igualar o recorde histórico de cinco carnavais seguidos no especial, alcançado entre os anos 80 e 90. O Canto não foi comparável à Mangueira, nem Ilha, tampouco Mocidade. Mas foi satisfatório. A evolução, apesar de alguns desencontros de coesão nos espaçamentos e ordenação dentro das alas, foi alegre, contagiante, feliz, divertida, alto astral. Jeitão São Clemente. São Clemente assim a gente quer. São Clemente igual a Beija-Flor a gente dispensa. Cada uma preservando o seu jeito de fazer carnaval, sempre. Gostei da evolução de modo geral. Tem algumas coisas a serem notadas, como alguns enxertos desnecessários. Algumas escolas têm mostrado a necessidade de correr, a São Clemente mostrou planejamento ao evoluir de maneira linear, sem aceleradas repentinas. Comissão de Frente, coreografada por Regina Sauer e Carlos Bolacha, veio a cara da preto e amarelo. Brincalhona. A caracterização dos meninos da favela, cabelinho tingido de loiro, com a pele negra. As cores da escola, com um retrato fidedigno da realidade favela, realidade a ser - pelas explicações do enredo - escondida neste carnaval clementiano. Simpatia total também as meninas de Black power. De modo geral, um ensaio bom da escola. E num dia importantíssimo, falemos a verdade, né? Não há como esconder que existe aí, uma rivalidade implícita bem clara. Talvez não entre as escolas, entre as diretorias, mas para a gente que acompanha e para as torcidas das duas, existe sim. E nesse confronto direto, a São Clemente evidenciou as diferenças entre uma escola robustecida, encorpada, para uma que volta 18 anos depois. A análise carnavalesca colocava São Clemente e Império da Tijuca em patamares próximos até o ensaio deste sábado. Depois de hoje, vejo um Império com 20 dias para superação emergencial. E uma São Clemente encaminhada, e bem, para mais uma permanência tranquila.

RANKING

1-Mocidade
2-Ilha
3-Mangueira
4-São Clemente
5-Império da Tijuca