Jornalista comenta o encerramento dos ensaios da Série A.
UNIDOS DO VIRADOURO – A quem é acostumado aos ensaios técnicos, ver a Viradouro é sinal de show, indício claro e mais evidente de locação equívoca, e de que a niteroiense está mal parada, num lugar que não é dela por direito. Lembro-me de ensaios apoteóticos em 2012 e 2013. Canto e vibração de quem estava incomodado àquela condição não merecida. Como um camisa nove bom de bola, mas em crise com a torcida por uma temporada ruim em anos passados. Em 2010, a Viradouro foi pereba. Pisou na bola, perdeu pênalti e caiu no gramado. Foi substituída sob vaias. E as entradas na Sapucaí eram os gols do centroavante. Fazia questão de vir com raiva, bradar em forma de canto que era incrível, pujante e especial. Um esbravejo contra tudo e todos, era vontade de subjugar os críticos e duvidosos. Neste ensaio 2014, vi o centroavante sem elã. Acostumado à condição. Não quis mostrar-se grande, nem melhor, nem líder, nem saudoso. Mostrou-se mais um no elenco em busca dos três pontos, seguindo as orientações do treinador, se Deus quiser. A revolta, transformada antes em pegada, virou conformidade. Claro, a escola mantém a cara da elite, não em contingente, mas em forma. Sabe desfilar. Há estrutura, há potencial, há samba. Vi uma escola altamente organizada, bastante controlada em todas as alas, sem quaisquer tipos de falha em coesão no evoluir dos componentes. Canto bem executado, sem variações tão evidentes. Tecnicamente perfeito. Linear. Zé Paulo, como sempre, muito bem. Conduziu os componentes como sempre fez, desde o Arranco. E ele, sem presepada, arranca o ânimo, enseja empenho dos componentes. Dessa galera boa da Série A, Zé é TOP 1, pra mim. Intérprete e puxador, em união, simbiose criadora de uma condução competente em parceria de convocação direta aos desfilantes, uma chamada na chincha. Um “Vamos lá” de garbo, na classe. O trabalho do Zé começou antes, há minutos do ensaio, num discurso orado por ele, se mostrando imerso no universo Viradouro. Bonito! Na pista, o samba da campeã de 97 funcionou como o esperado. Samba muito bem trabalhado em letra e melodia. É um 10 por fundamentos. A Comissão de Frente, de Luciana Yegros, veio disposta a esconder o jogo, principalmente na apresentação para os “jurados”, proporcionando até um anti-espetáculo. Foi lá para marcar o tempo e só. Tem tudo pra ser um ótimo trabalho, mas confesso meu olhar torto para isso. Fora das cabines houve mais rebusco na apresentação. Harmonia foi nota 10. Evolução, hoje, é 9.9. Faltou raça, faltou amor, faltou sangue nos olhos. Faltou se inconformar por ainda estar fora da elite, como a Estácio se inconformou outro dia. Faltou querer mais do que as outras o acesso. Sempre tive a impressão que a Viradouro era uma escola do especial tirando férias forçadas no acesso. O ensaio de hoje foi bom e tudo, correto, tecnicamente impecável. Mas foi ensaio de acesso, de mais uma das 17. Uma muito boa, é verdade, mas pertencente ao acesso. O centroavante marcou mais um gol, mas esqueceu do berro, da batida no peito, do desabafo.
INOCENTES DE BELFORD ROXO – A caçulinha da família está ficando mocinha e já já vai se transformar numa linda mulher. Inocentes cada vez mais ganha corpo. Terceiro ensaio que acompanho da escola, e a evolução é gradativa e latente. Logo de cara, um esquenta com “As sete confluências do Rio Han”. Um recado aos críticos, a quem apontou o dedo e largou o chicote na escola nesses dois últimos anos A Inocentes me parece uma escola orgulhosa do que fez e do que ainda pode fazer. Ficou mordida com as notas, com a mídia e comprou essa bronca de ser a injustiçada, e vai usar isso para inflamar o belforoxense, já maltratado – de modo geral - pelo próprio destino. Mas que agora tem algo no que se apegar. A tricolor quer mesmo é cativar, e, numa dessas, me cativou. Ela curte um impacto. O Abre-Alas de 2013 impactou a todos. Em 2014, já no ensaio, fomos abismados pela Comissão de Frente, comandada pelo ótimo Patrick Carvalho. A dúvida tomou conta. Um suspense, meio Paulobarrista, se formou. Dois grupos distintos se apresentaram como comissão. O primeiro, formado por cerca de 12 rapazes, em fantasias tribais, levantou o público por onde passou. Além da coreografia complexa e sincrônica, algum deles ganhava terreno e emendava uma série de saltos mortais. Em dado momento havia uma troca, em que este grupo ia para trás do primeiro casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, e de lá vinha um grupo de mulatas, igualmente bem coreografado, e tomava a reponsa de virar Comissão. Na primeira cabine de jurados se apresentaram os rapazes; na segunda foram as meninas. A lembrar que a Comissão de Frente só pode ter 15 componentes aparentes. Como a Inocentes fará ninguém sabe, só eles. Numa rápida palavrinha com o Patrick, ele garantiu que as duas fazem parte do processo. Sei lá, tem cheiro de Laíla essa brincadeira aí. Vale lembrar que o Laíla, Diretor Geral de Harmonia e Carnaval da Beija-Flor, tem auxiliado sistematicamente a Inocentes neste carnaval 2014. Citamos Laíla, associamos Beija-Flor, lembramos de chão forte. E a Inocentes evoluiu muito nisso. Não foi uma harmonia dos sonhos, mas me pareceu satisfatória. O canto decaiu, não manteve a linearidade, no entanto, muito mais gente cantou do que não cantou. Está no caminho certo para o desfile. Na evolução aconteceram falhas, porém pontuais. Um espaçamento além do normal aqui, uma não ideal distribuição dos componentes dentro de uma ala acolá. No final, boa evolução também, apesar da última ala ter vindo de qualquer jeito, sem ordenação nenhuma. No geralzão, foi bem. Ah, não dá para esquecer do Ciganerey. O trabalho dele é destacável. O samba, nada do meu agrado no CD, funcional se fez na avenida. O andamento da bateria em consonância com o carro de som, respeitou a característica mais cadenciada do samba. Isso valorizou a obra, e muito. Só me preocupo sinceramente com o refrão do meio que diz “Desfrutando do talento...” É inviável cantar “desfrutanDO DO” dentro da melodia proposta no trecho. E é bem claro que é entoado “Desfrutando talento”. A letra do samba pode levar uma canetada aí, talvez até a melodia mal encaixada. No mais, a Inocentes está bem encaminhada. Até hoje, dos colegas do carnaval, só eu e mais um amigo, achamos justo o título da Inocentes em 2012 no Acesso A. Só nós dois. E na justiça, acharia legal a tricolor da baixada vir com um desfile daqueles e brigar pela vaga no Especial de novo.
RANKING FINAL DA SÉRIE A
1-Estácio de Sá
2-Unidos do Viradouro
3-Caprichosos de Pilares
4-Unidos de Padre Miguel
5-Renascer de Jacarepaguá
6-Inocentes de Belford Roxo
7-Império Serrano
8-Unidos do Porto da Pedra
9-Acadêmicos do Cubango
10-Acadêmicos da Rocinha
11-Acadêmicos de Santa Cruz