Ensaios de Rocinha, Estácio de Sá e Império Serrano sob o olhar do jornalista.
ACADÊMICOS DA ROCINHA – Confesso desde já minha simpatia pela tricolor de São Conrado, a partir de 2011. O X-bacon e o sundae com castanha e chantili, pra mim, foi carnaval carnavalesco, desfile de anais, para entrar nos livros de pergaminho da história, talvez até da humanidade. Luiz Carlos Bruno e a nova diretoria da escola têm influência direta no resgate de uma Rocinha alegre, empolgante e popular. Os enredos sempre de linguagem leve e solta construíram uma nova escola, outrora patricinha, e hoje da galera. Nossa queridinha. A verdadeira escola do bom humor e da irreverência, e sem se proclamar assim, como fazem outras. E a Barra da Tijuca, enredo – a priori – dos mais trashs, tem tudo a ver com a Rocinha feliz. Luiz Carlos Bruno, craque juramentado, é confiável para pressagiar mais um desfile de fácil leitura e agradável. O samba pode ter rimas forçadas, mas é pra cima, valente que só, e é caído como luva para o estilo Leléu. Intérprete não! Puxador! Parafraseando ao inverso o Jacarezinho 2013. A parte musical da Rocinha, sinceramente, me agrada. E nem preciso aqui falar da Bateria Ritmo Avassalador de Mestre Maurão, né? Vamos lá, parte inglória. Rocinha veio tímida, pequena, a menor de todas até agora. Não que seja problema dos mais graves, no entanto, é um jeito de se mostrar menor, abaixo. Comissão de Frente, com uma proposta aparentemente leve em consonância com o enredo, teve problemas claros na coreografia. A sincronização se mostrou falha em alguns momentos. Durante a apresentação no segundo módulo de jurados, dois componentes chegaram a se chocar. Em outro momento, o coreógrafo teve que se entranhar na Comissão para organizar os seus comandados. 30 dias para ajeitar isso. As primeiras alas da Rocinha passaram caladas pela Sapucaí, canto abaixo até em relação à Santa Cruz. Após a passagem do carro de som, sob comando de um empolgante Leléu, a situação deu uma substancial evoluída. O samba alegre da Rocinha e a interpretação efusiva do cantor se fizeram competentes, e mesmo os que não sabiam cantar, evoluíam bem, com espontaneidade. Na evolução, a escola tem algo a melhorar, senti um descompromisso terrível em quem passou por ali representando a Rocinha, acima de tudo nas primeiras alas. Foi possível visualizar componente conversando, andando, pensando na vida, mexendo no celular, possivelmente jogando um Tetris, tamanha a concentração e dedicação em ser omisso. E nas alas finais faltou ordenação dentro delas. O ensaio não prometeu algo positivo, assim como o barracão também não promete. Mas tenho fé. A Rocinha, respeitosa aos princípios básicos do carnaval - da alegria, da felicidade e da gargalhada - merece nossa torcida.
ESTÁCIO DE SÁ – Ah, Estácio! Que ensaio! Papo de Especial. Como diria um grande amigo, botou o braço na mesa. Mostrou que não é daqui, é escola de elite. O Berço do samba reencontrado. Em entrevista, o presidente da Caprichosos – Cezar Thadeu – disse que na Série A “É preciso matar um leão por dia” Eu iria além. Para subir, presidente, vai ser preciso matar o Leão no dia. O leão da Estácio, já decantado como favorito nos papos informais de esquina, agora é favorito de modo formal, com padrinhos, madrinhas, padre e registro em cartório até. Tudo começou no “Círio de Nazaré”, interpretado por Dominguinhos DO ESTÁCIO. Nostalgia total. Emocionou, de pronto, quem por lá estava. E quem não foi, desculpa, perdeu. O casal Daniel e Alcione, dos mais tarimbados da Série A, fez uma apresentação linear, com sincronismo e leveza que os caracteriza. Uma Evolução correta, sem erros, e à frente de Cubango e Renascer, pois foi mais vibrante. O estaciano comprou a bronca, algo que quase sempre faz. Organização e espontaneidade numa simbiose perfeita e resultante invariável de 4 notas 10. Harmonia foi Top. Canto reto, sem oscilação. Da primeira à última, os componentes entoaram o samba da Estácio com paixão. E, claro, sob um carro de som comandado por Leandro Santos, a cada ano melhor. Esse é intérprete com gosto, dos melhores do Grupo. Sem estrelismo, na simplicidade apreciada pelos dotados de talento, Leandro lida com o veterano Dominguinhos com sabedoria. É inevitável lembrar Wander Pires e Dominguinhos em 2013 na Imperatriz. Cada um querendo brigar por mais espaço, tentando tomar, sob qualquer penitência, o protagonismo. O experiente cantor vai para a Estácio e encontra por lá um camarada como Leandro, sem egocentrismo e de vaidade controlada. Isso me parece ter criado a aura de serenidade ideal para Dominguinhos aceitar, finalmente, ser um igual. Ou apenas ensinar, passar conhecimento e robustecer a ficha técnica. Fazer ali uma aparição de gala, dar peso histórico e tornar a Estácio mais Estácio. O samba, já ótimo no CD, é ótimo de pista como imaginava. Só finalizar o barracão, desfilar, esperar a apuração. Estácio vem que vem.
IMPÉRIO SERRANO – Quando surgiu, o Império parecia que vinha no páreo com a Estácio. Vibrante e imponente como sempre. Única escola a trazer um tripé, a verde e branco veio com a coroa sempre altiva e um esquenta da Bateria, comandada por Mestre Gilmar, daquele que manda um recado soberano, agito que certamente ensoberbece o imperiano. Após os ótimos, mas escassos, minutos iniciais, o Império mostrou que não mandaria tão bem quanto à vermelho e branco. O samba foi cantado a plenos pulmões nos primeiros instantes, mas houve um claro declínio do meio para o final do ensaio. Talvez justificado pela alta média de idade de quem estava presente no treino. Algo natural para o Império. Imperiano é imperiano, e mesmo com as marcas do tempo, continua o sendo sem diminuir a intensidade. Imperiano de fé não cansa, né? Escola de samba que se renova, mas se preserva. Bom canto, dos melhores que passaram até aqui. Comissão de Frente ainda com um trabalho incipiente – cerca de 15 dias - dos recém chegados Beth Spinelli e Victor Reis mostrou uma coreografia simples, sem muitas falhas. Não comprometeu. Para o pouco tempo, me parece um bom trabalho. No entanto, é necessário um desenvolvimento mais profundo nos próximos dias, principalmente na comparação com Comissões mais bem elaboradas e destaque nessa série de ensaios técnicos, como Renascer, Caprichosos e Unidos de Padre Miguel. A Porta-Bandeira Bárbara Falcão, pela primeira vez defendendo nota na Sapucaí agora em 2014, não brilhou, mas não comprometeu. Em primeira análise, me parece haver um entrosamento. É um casal capaz de alcançar as notas dez. Mas os grandes problemas do Império residem, pela análise do ensaio, na evolução. Ainda no início, um grupo de 6 ou 7 desfilantes, com a camisa do Império, não se localizava em qualquer ala, eles queriam andar às laterais da escola, prejudicando o trabalho de quem ali estava para auxiliar na ordenação do corpo imperiano. A diretoria da LIERJ, de pronto, os levou para outro lugar. Por mim, levava para fora da avenida, amigo. Mas a LIERJ - mais serena, capaz e racional - os levou à frente da escola, evitando confusão. Outro detalhe negativo foi notar várias pessoas sem a blusa de ensaio. Não é desfile oficial, mas o ensaio técnico é um evento oficial, merece o mínimo de austeridade da diretoria para com o componente. O ensaio seguia, e os problemas de evolução eram recorrentes. Algumas alas, não poucas, não tinham padrão na distribuição dos componentes dentro delas. E o espaçamento entre as alas era variável, às vezes grande, às vezes nem tanto, faltou coesão. Houve outro problema que se pôde constatar, aí referente ao samba-enredo e Harmonia. O intérprete Clóvis Pê tem uma espécie de caco fixo que ele executa ao fim da primeira passada do refrão do meio. É o “Sapucaí”. Percebi alguns componentes cantando junto com o cantor esse trecho. A lembrar que “Sapucaí” não estará nas mãos dos julgadores de samba-enredo e harmonia. Décimos preciosos podem escorrer por um simples detalhe como esse. Em entrevista, o presidente Átila Gomes confidenciou que o Império instalou algumas câmeras na avenida para averiguar os pontos positivos e negativos do ensaio. Ideia interessantíssima, inclusive. Estalo de quem quer trabalhar, de quem está querendo o melhor. Mas haja averiguação e retificação. Império vai precisar de mais no dia 28/02 para voltar ao Especial.
RANKING
1-Estácio de Sá
2-Caprichosos de Pilares
3-Unidos de Padre Miguel
4-Renascer de Jacarepaguá
5-Império Serrano
6-Unidos do Porto da Pedra
7-Acadêmicos do Cubango
8-Acadêmicos da Rocinha
9-Acadêmicos de Santa Cruz