Comentários dos ensaios de Porto da Pedra, Santa Cruz e Renascer de Jacarepaguá.
PARA O MUNDO VER!
O carnaval – ao lado de Pelé – é o nosso maior embaixador no mundo. Só nos fazemos importantes no âmbito global por responsabilidade dessas duas instituições culturais, com todo respeito ao petróleo, às novelas, caipirinhas, bananas, laranjas e corrupções. Apesar do público reduzido, cumprimos nossa missão. Mostramos aos gringos, e vários por lá estavam, que somos diferentes, somos festa, sorriso, espontaneidade, e não temos vergonha disso. Jamais vamos virar as costas para nossa lascividade e sexy-appeal latentes. Itens que poucos deles podem abrigar em seus países. O Brasil, cravejado de latinidade, seduz os corações gélidos, quais certamente, gostariam de ser como nós. Nossos corpos, graças ao toque do criador, são admirados e até invejados. Cobiça da boa, daquela que se curva e maravilha. A noite serviu como aprendizado indelével, de quem é do frio e volta para casa sentindo o calor transcendente aos termômetros. 40° graus na alma, de sensação térmica incalculável.
Por aqui, podemos dizer que não tivemos uma das melhores noites dos ensaios técnicos. Mas vai dizer isso pra eles lá. Antropofagia cultural na veia, na base da bendita globalização. Dizem uns ser colonialismo moderno, eu chamo de Conclamação dos evoluídos aos menores. Um chamamento ao progresso. E nessa área do bailado, da alegria e da brincadeira somos vértice da pirâmide, desculpa. Casais, baterias, sambas, baianas, velha-guardas, passistas... Ah, foi demais para eles! Para a gente que se acostuma com essa magia toda, como um acender e apagar de luzes, fica mais fácil racionalizar a festa, e até pôr em competição tanta gente feliz e merecedora de reverência.
UNIDOS DO PORTO DA PEDRA – Iniciou sua apresentação de modo efervescente. Claro, ninguém passa 11 anos na elite do carnaval e volta de lá com a mochila vazia. Deslizando o zíper da Porto da Pedra, a gente vê chão, vê comunidade ativa, vê um povo acostumado a desfilar e amante daquilo ali. Mochilinha pesada, de quem está aqui, mas é de lá. Depois do início alucinante que nos prometia um ensaio técnico para marcar, fomos notando os agregados, os não apaixonados, os ausentes, os que ainda estão tentando aprender o samba. Nenhum mal. Algo a se aprimorar, e 30 dias me parecem suficientes. As primeiras alas lembraram a Caprichosos do último domingo no tocante à vibração de quem evidentemente comprou a bronca do samba-enredo. Sou fã do samba da Porto da Pedra, acho de uma poesia singular e, por isso, difícil de se achar por aí, mas confesso que a característica melodiosa impede o povo de São Gonçalo a explodir. Falta refrão! Anderson Paz fez o que pode, competente que é, melhorou o samba desde a escolha em setembro. Destaques ainda: A apresentação de Zé Roberto e Thais foi muito boa, das melhores até aqui. Numa missão inglória, com responsabilidade além, de representar tudo o que diz o enredo, o casal foi exitoso. A análise de ontem é que estão prontos para a carga de atenção neles depositada no dia 28/2. A presença de Lucinha Nobre na Comissão de Frente, e as participações pertinentes de alguns casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, como Felipe e Rafaela; Diogo e Danielle; Raphael e Squel; Fabrício e Denadir. Consigo, eles portavam as bandeiras de Imperatriz, Portela, Mangueira e São Clemente, respectivamente. Escolas da AESCRJ levaram seus casais, as escolas mirins também, os casais jovenzinhos da escola do Mestre Manoel Dionísio que formaram uma ala se destacaram. A iluminada e mítica Vilma, dando show, nos levou por segundos a outros tempos. E, claro, um Carlinhos de Jesus altamente lírico, na figura de Ubaldo, pioneiro nessa história aqui. Com um eterno sorriso no rosto, Carlinhos sintetizou, em gestos e simpatia, o que é esse enredo: Um encontro dos amantes do carnaval. “Majestades do samba, os defensores do meu pavilhão” é carnavalesco na essência, é de dentro para fora.
ACADÊMICOS DE SANTA CRUZ – Inevitável recordar 2013 e passar o flash do ensaio técnico da verde e branco naquela oportunidade. Até o desfile restavam mais de um mês, como agora, e a Santa Cruz fez um desfilão. 10° lugar não merecido. Era papo de cinco primeiras. Assim como no último ano, a Santa Cruz não mandou bem. Na última temporada, no entanto, a escola da Zona Oeste tinha um instrumento forte para se recuperar: Um sambão. Samba com cara de pista, formador de chão. Em 14, teremos de torcer para que o “verde cinturão” aperte e não deixe às ceroulas a mostra, e o parque industrial produza a mercadoria do canto, em defasagem nas lojas do ramo pesquisadas até aqui. A Santa Cruz errou em tudo. O Samba já decantado como pobre melodicamente, assim se fez na avenida, apesar do bom trabalho de Paulinho Mocidade. O refrão principal talvez tenha sido o único suspiro positivo, num trabalho dele. Experiência se fez valente, desde a gravação do CD. Na harmonia, faltou conhecer o samba e se encantar com o ele, difícil missão. A única ala que se esmerou em cantar foi a dos que moram em Jundiaí, os que estão envoltos na sinergia emocional da homenagem. Com todo carinho à cidade saudável, mas para se emocionar com esse enredo e com esse samba só sendo de lá. Evolução prejudicada por essa falta de elã em imergir em Jundiaí, e ainda pela simples ausência dos “harmonias”. Faltou comando, faltou voz, prontidão. O presidente Zezo, contundido, não pode tomar para ele a responsabilidade que sempre toma. O mandatário da escola é daquelas figuras simpáticas, um dirigente amador, dos clássicos, um guerreiro dos mais abnegados e apaixonados, dos que lutam no brio por dias melhores. Joga nas 11 e faz de tudo um pouco pelo pavilhão idolatrado. Faltam desses no país. Eu multiplicaria o Zezo por vários e distribuiria pelo país a fora, até no Palácio da Alvorada se vocês querem saber. Sem ele, se dá uma clara segmentação de poder. Talvez justifique assim o desarranjo de hoje. Rolou até musa da escola com um espaço de 30, 40 metros para aparecer. Adoro me encantar pelas curvas femininas, até um vício confesso, mas a estrela da festa é, ou era para ser, a Santa Cruz. Um desfile como 2013 merecia continuidade. Quero ver, e ainda acredito, uma Jundiaí como foi o Ceará.
RENASCER DE JACAREPAGUÁ – Uma escola que se mostra na área de armação com a Comissão de Frente fantasiada, já caracterizada, claramente no espírito da sua abordagem de desfile, me causa simpatia de pronto. Uma valorização do espetáculo, e uma valorização da própria escola. A Comissão de Frente da Unidos de Padre Miguel foi capa das principais matérias e crônicas sobre semana passada, não a toa. Isso é expandir a marca. Com o tempo, pudemos observar que não só a fantasia agradaria. O trabalho do coreógrafo Fábio Batista é destacável. As tias baianas da Comissão de Frente contagiam o público, com simpatia e coreografia bem trabalhada e sincrônica. No dia do desfile teremos mais, certamente! Evandro Nicolau e Diego Malandro; Evandro Diego, Malandro Nicolau. Misturemos os nomes à vontade, eles foram um só, tamanho entrosamento dos dois. Carro de som perfeito. Ambos apareceram sem ofuscar o outro, dando espaço para os dois brilharem. Não cantaram, não. Aquilo ali foi bullying. Essa parceria bem sucedida, já observada no lançamento oficial do CD da Série A, propiciou uma interpretação condizente ao sambaço de Cláudio Russo e Moacyr Luz. Interpretação à altura da obra. Confesso que o samba me preocupava por não ser um daqueles valentes, pra cima, e sim melodioso por demais. Diego e Evandro fizeram questão de me persuadir que vai dar certo, só na tranquila. Em 2013, a Renascer se negou a participar dos ensaios técnicos, e agora um ano depois, percebemos que fez falta. Parece-me uma escola redondinha. No duelo de quesito está muito bem servida. Têm potencial para tirar 10 em qualquer item. A ser trabalhado apenas o canto dos componentes. Tinha ala que a proporção era 9/1. Nove não sabiam o samba, e um cantava. Esse percentual assustador, claro, não se estendeu por todas as alas. Houve oscilação bem evidente no canto, não por culpa do samba ou do andamento da bateria, mas pelo simples desconhecimento de alguns. Quem ensaia nem sempre desfila. E nessa troca de corpo, aposto numa Renascer fortíssima. Na evolução, a vermelho e branco foi a mais organizada e coesa dentre todas até aqui, talvez ao lado da Cubango. E quero destacar a roupa de ensaio, com um toque de amarelo com o vermelho tradicional, cores do pôr do sol. No mínimo, poesia ambulante aquele conglomerado ali. Deu uma sensação de leveza, numa escola que tem obrigação de vir leve no dia 28/2. Lan é leve. A Carioquicidade de Lan nos dará um desfile singelo – não por discrição, mas por simplicidade, que rima com genialidade - e o Barracão colorido deixa isso bem evidente. Numa consultoria para a Bolsa de apostas de Londres, indicaria uma aposta substancial na Renascer, desde que meus 20% estivessem asseverados, pois a chance de êxito é real.
Vai meu ranking aí para vocês:
1-Caprichosos de Pilares
2-Renascer de Jacarepaguá
3-Unidos de Padre Miguel
4-Unidos do Porto da Pedra
5-Acadêmicos do Cubango
6-Acadêmicos de Santa Cruz