Escola divulgou o enredo na quarta-feira.

A Mocidade Independente de Padre Miguel apresentou na quarta-feira (29), o enredo da escola para o Carnaval 2012. As obras de Candido Portinari serão levadas para a avenida.

O título escolhido foi: "Por ti, Portinari, Rompendo a Tela, a Realidade", de autoria do carnavalesco Alexandre Louzada.

Confira abaixo a justificativa e a sinopse:

JUSTIFICATIVA:

Ao escolher Candido Portinari como tema, a Mocidade Independente vem celebrar um dos maiores nomes da pintura brasileira no cinquentenário de seu desaparecimento.

Através de suas mais importantes obras, mostraremos a trajetória deste artista que acima de tudo retratou em seus quadros e murais, a história, o povo e a vida dos brasileiros, através dos traços fortes e vigorosos carregados de dramaticidade e expressão.

Esta homenagem escrita em forma de poema é a maneira mais digna encontrada para festejar este mestre que além de pintar também foi poeta e que entre outras manifestações artísticas soube tão bem ilustrar com seus desenhos os poemas de Carlos Drummond de Andrade, seu grande amigo e parceiro na versão do livro "Dom Quixote de La Mancha", de Miguel de Cervantes.

Por fim é a Mocidade Independente que se orgulha em levar para o desfile um pouco da obra imortal de Portinari ao conhecimento do grande povo, aquele que sempre foi a sua grande fonte de inspiração.

SINOPSE:

Num voo mágico, viaja o samba,

a conduzir meu povo feliz

em seu viajante sonho.

 

Solto no universo garboso, prosa em verso,

na fantasia a se tornar realidade,

leva os tambores da felicidade,

para despertar o artista na morada celestial.

 

Ó mestre, ergueis do sono esse quadro vazio.

Sua obra vive no cantar de nossa gente.

 

Põe nas tuas mãos o teu instrumento,

tua tela hoje é o firmamento,

que a arte se deixa tingir o breu da noite,

com um colorido de festa,

a aquarela do carnaval.

 

Vai, reinventa mais um lúdico céu.

Pinta por nós a nossa estrela,

tu que pintaste tanto a Mocidade,

deixa a tua mão deslizar Independente.

 

Hoje, somos as tintas que envolvem

as cerdas do teu pincel, e que,

na mistura das cores, por ti, Portinari,

rompem a tela para a realidade

e brilham no samba de Padre Miguel.

 

Hoje, uma moldura viva e humana

enquadra a tua história na pista,

e teu traço se refaz nos pés,

no passo do sambista,

que vai riscar murais de sonhos

e estampar retratos,

cena dos Brasis que tu desenhastes.

 

À luz da inspiração, vem fazer reluzir em nossa mente

a cândida infância de tua Brodowski querida,

e reflorescer os campos com suor da lida,

dos mestiços viris a lavrar a ampla terra.

 

"Entre o cafezal e o sonho",

vem reunir retalhos e as lembranças coloridas,

como as dos espantalhos a oscilar na brisa,

serenos sobre as plantações.

 

Hoje, é um tempo que não passa.

Um turbilhão, um vento que sopra,

que varre e traz recordações,

e que vem devolver a ti a meninice.

 

Somos nós os teus meninos,

sem rosto, anônimos na multidão,

que fazem girar o teu mundo

num rodopio frenético,

como se fossem um pião,

tal como um caleidoscópio

a transmutar em formas a tua imaginação.

 

Somos a quimera límpida,

que balança livre num céu pontilhado,

às vezes, de pequenas pipas e balões.

 

Viemos abrir o teu coração

e revelar esse tal sentimento,

que subjugou a estética,

ao adulterar a técnica pela arte livre,

carregada de emoção.

 

Nessa força da cor que se imprime,

se diluem teus nativos,

descobridores, heróis desbravadores,

fauna e flora a percorrer paredes

como ciclos, desvendando a história,

o caminhar dessa nação.

Nesta hora, trazemos a alegria

pintada em nossas caras.

 

O suor que transpira

sob as luzes deste palco

é a nossa emoção que transborda,

ainda que exale de nós

a têmpera do mesmo povo sofrido,

do caminhar errante,

em busca da terra prometida, a vitória.

 

Imagina nós, os retirantes,

embora a esconder a face dura da vida,

como tão pungente retrataste,

dando o tom da cor às palavras

de "Guimarães" e "Graciliano",

a cor da dor, escassa,

como a secura da terra do cangaço,

por vez, na força do traço,

a bravura sertaneja.

 

A nossa odisséia e a nossa missão

é cantar-te, nosso estandarte, a glória,

como quem procura buscar nas alturas a prova.

 

Somos cenas bíblicas,

tal qual as que interpretastes,

nos vemos Santos,

Anjos olhados por Deus,

a voar nos céus azulejados.

 

Viemos aqui à luta,

contra o inimigo invisível,

os moinhos de vento

de uma aventura inventada.

 

À sorte, nos imaginamos fortes,

como o arauto sonhador

a rabiscar no papel uma estrada escrita

num poema de "Drummond".

 

Somos "Dom Quixote De La Mancha",

a empunhar a lança feita de lápis de cor.

 

Enfim, somos todos iguais esta noite,

como aqueles tantos que tua mão desenhou.

 

Somos o samba, o morro,

a favela, a dança, a música,

o contraste social,

trabalhadores do sonho,

assim como os da vida real.

 

Vamos à luta,

temos as caras das tuas caras,

o autorretrato da tua alma.

 

Somos todos em um,

a tua lembrança viva,

a eterna Mocidade,

modernista, revolucionária e guerreira

que, aqui neste momento,

ergue a ti um monumento,

um imenso mural,

pintado com a nossa alegria,

na batalha feliz deste dia,

"Guerra e Paz" do carnaval.

Carnavalesco Alexandre Louzada