É com a simplicidade de um folião, de alguém que se integra com operários no barracão do mesmo jeito que abraça e beija baianas, cumprimenta componentes e saúda passistas e se emociona nos ensaios, que o carnavalesco Severo Luzardo Filho, com 40 anos de carnaval – sendo que desde 2004, como carnavalesco - quer restabelecer a garra e a alegria da União da Ilha do Governador. E é com a empolgação de quem está estreando no Grupo Especial que ele quer reviver os bons desfiles da escola e fazer a Ilha se apresentar com a cara da Ilha.
 
“Tenho esse jeito de abraçar os projetos, de ter uma relação direta com a comunidade. Fui convidado para trabalhar na Ilha, sabendo das condições e com transparência. E encarei o desafio com alegria. Gosto de fazer junto, subo nos carros, pinto adereços e ouço todo mundo. Estou feliz e a escola também. O enredo foi bem aceito, o samba foi do agrado da comunidade e o ensaio técnico (realizado no Sambódromo, no dia 15 de janeiro) foi aquela festa, com todo mundo cantando, com aquela alegria que é característica da escola. Os componentes, nos ônibus na volta do ensaio não paravam de cantar”, relembrou Severo.
 
Figurinista, que se divide entre o trabalho no barracão e com os figurinos de três novelas, uma delas, atualmente em exibição, Severo conta que é no detalhe que seu trabalho sobressai. E quando entrar na Sapucaí, em 27 de fevereiro, já vai saber se é um dos agraciados pelo Oscar. Ele fez o figurino do filme brasileiro “Pequeno segredo”, que concorre na categoria filme em língua estrangeira. Gaúcho de Uruguaiana, Severo, que é filho de um carnavalesco já falecido, se define como um profissional clássico, que aposta no samba, no chão da escola. Sabe que o desfile se transformou num grandioso espetáculo, mas acredita que não pode perder a essência. Por isso, optou por contar a história da criação do universo a partir da lenda banto, de Angola. Ele explica que banto é o equivalente ao candomblé de Angola e que é muito menos conhecido que o yorubá.
 
“A lenda é lindíssima e vai ser contada pela primeira vez na Sapucaí. No banto, não temos orixás, temos inquices. A mais velha das inquices escolhe o rei de Angola, Kitembo, e o transforma num inquice mágico do tempo que vai criar os elementos: terra, plantações, fogo vulcões, águas, geleiras, raios e trovões. Até que ele conhece Matamba, a inquice dos ventos e tempestades, pela qual se apaixona. Juntos, eles voltam para a África e criam o reino Nzambi, de muita prosperidade, riqueza e amor para toda a humanidade”, explica o agnóstico Severo.
 
Para contar a lenda angolana dos banto, Severo reproduziu estamparias diversas tribos de Angola que estarão presentes em fantasias e alegorias. Numa época de crise, em que os carnavalescos trabalham com a falta de material no mercado, ele vai usar muita palha. E promete uma escola vibrante, em azul, vermelho e branco.
 
“Meu trabalho é pegar o material empobrecido e transformá-lo numa fantasia bonita. E trabalhamos muito para isso. A União da Ilha vai fazer um carnaval grandioso, bonito, detalhista e recuperando sua identidade. Quem vir o desfile do alto, como das arquibancadas, verá a bandeira da escola, com suas cores na avenida. Vamos fazer um carnaval clássico, valorizando o tradicional, como a ala de passistas à frente da bateria, com o componente se apresentando livre, brincando, sambando. Isso vai ser o ponto alto do desfile: o resgate do orgulho, da alegria que dá o brilho de ser União da Ilha”, destacou Severo, com seu sorriso contagiante.
 
FONTE: G1/Carnaval
(Foto: Nayra Halm/ Divulgação União da Ilha do Governador)