Confira como foi cada escola!

Redescobrimento bilateral. Guiné Equatorial redescoberta a nós pela Beija-Flor num redescobrimento de identidade. A deusa passa a ter de volta sua essência negra, na pista e na plástica. Um bem a quem gosta dos quadrados definidos, das tradições e memórias. A Beija-Flor que transpira o auto-amor, confundido na ignorância por soberba, só aqui existe para o inebrio coletivo. A paralisia do 'como eles conseguem?'. A estupefação pelo transmuto da festa em algo sério e tão organizado sem perder o gozo e orgulho em desfilar. Militarização dizem. Pode ser. No coturno os pés de samba, na munição os dentes de fora. Sorrisos que alvejam os descrentes. O crente entende. A seriedade pode ser prazerosa. E a Beija-Flor, nos ensaios técnicos, dá uma aula prática ao brasileiro moderno. Brasileiro atual de vaidades, frescuras, falcatruas e preguiças. De forma didática temos ali o ensinamento. É tão difícil ser feliz e correto? Só dá pra ser feliz na esbórnia moral? Só dá para ser correto reclamando do mundo à sua volta? Dá para ser Beija-Flor! Séria, feliz e honesta, assim como o homem de bem, cada vez mais raro. Falando em homem de bem, Boni esteve presente ao ensaio. O que é para esquecer é o 7° lugar. Não o homenageado. Ele, além de gênio, mostrou o que todo ser elevado mostra: humildade. Mesmo depois de sofrer tantos ataques histéricos e ofensivos de quem só pode ser franco atirador, Boni não some. Quer continuar. Deve ser pela gratidão da escola. Um carinho poucas vezes visto. É fácil ser grato na ingerência externa. Na pressão por ser. No caso, é uma gratidão não impulsionada, não promulgada socialmente. É voluntário. E isso é sentimento de gratidão. Não é racional, é o natural dos bons.

Mais um ensaio competente. Extremamente homogêneo. Impressionante como a Beija atingiu um nível de excelência tal que não há oscilação entre as alas. Elas evoluem igual, nem mais, nem menos espontâneas, nem cantando menos ou mais. Padronização. O samba, dos melhores do ano, embora trivial, segue um caminho bem Beija-Flor, é historicamente Beija-Flor e deve funcionar para a disputa do título. Não há interesse em inovar. Há busca pela vitória. Vontade de desfilar como antes. Quase uma reedição da época que só dava Deusa. Carro de som com Neguinho é um carro de som com Neguinho. Não tem como classificar. É Neguinho. Claudinho e Selminha, grandes instituições do Carnaval, não serão atrelados a nenhuma ideia inovadora e farão o que de melhor fazem: dançar. Comissão do craque Misaillidis deve partir para uma coreografia emocionante. Não teremos tripé este ano. Mas o coreógrafo não é dos caras de fazer só básico. Dele podemos esperar algo maior e fora do ordinário. Na apresentação do ensaio, passos simples, jeitão de comissão de África mesmo. Tem surpresa, espero. Harmonia perfeita. Mas é perfeito mesmo. Minúcia, apuro... exemplar. Evolução muito boa, um primor em organização. Alas coreografas evoluindo com alegria. Eu já vi a Beija mais esfuziante, é verdade. Mas não acho que seria correto criticar, me parece o caminho trilhado. A Beija-Flor não vem para ser além. Vem para estar na conta dos dez e nada mais. Não quer criar, não quer gerar tendência, não quer fugir do comum, não quer. Só quer ganhar.

A Grande Rio é mestre de ensaio técnico na Marquês de Sapucaí. E agora, com o Ricardo Fernandes na direção de Carnaval, ficou ainda melhor. É a escola que melhor depreende a ideia de um ensaio técnico como um show. Um tanto de treino e um tanto de festa. A mescla. Quem não vai estar no Carnaval merece um espetáculo também. E a Grande Rio faz seu papel, com seus artistas, detentores da popularidade. Passa um, e os holofotes pululam. Passam dois, vem a catarse. E a Grande Rio mete logo alguns vários para encontrar a purificação de ambiente. Sensação de prestígio ao artista e anônimo, num contentamento universal. Muito bom! Que os conhecidos nunca saiam dentre nós para manter o Carnaval por ali, nas luzes da ribalta, nem que seja de fundo numa matéria do Vídeo Show. Gosto dos amigos da Grande Rio. Gente bonita, animada, que gosta da escola, sabe o samba e nos transporta para a Caxias projetada, dos sonhos mais lúdicos do caxiense pobre que quer chegar lá e se vê sociabilizado diante dessa mistura de classes. Não acho que tenha tanta gente assim nas laterais. Dá para conviver. O mais fácil seria concluir que a pista é da escola e de quem faz parte dela. Nós, os jornalistas, cobrimos o evento, mas não somos o evento. Não somos tão importantes quanto à escola, bom lembrar. 60 mil pessoas não estão lá por nós. Estão por eles. Devemos advertir os exageros, mas sempre quando for pelo bem da escola, e nunca por incômodos pessoais.

O entendimento pela interação com o público foi atrelado, desde o ano passado, por uma técnica apurada. Tivemos uma Grande Rio bem mais organizada que outrora, evolução muito livre, espontânea, brincalhona. Sabe fazer show técnico também. Um espetáculo tecnicista. Harmonia exemplar, impulsionada por um samba mega funcional, com a cara do Émerson Dias, que a cada ano vai fincando sua bandeira entre os bons. Maduro, firme, sem viés de queda e preciso nas introduções de cacos. Trabalho imparável. Comissão pra lá de aguardada. Priscila Motta e Rodrigo Negri sempre prometem. E no ensaio os bailarinos mostraram um pouco de samba e muita simpatia. Foi uma linda apresentação, me lembrou aquela marcante da Vila Isabel há duas semanas. Casal formado por Verônica Lima e Daniel Werneck dançam juntos pela primeira vez e certamente estão preocupados com o momento chave, já que não apresentaram muito rebusco no ensaio técnico. Harmonia muito boa, canto linear. Evolução nem tanto. Enquanto a Beija-Flor manteve o padrão, a Grande Rio teve oscilações. Atingiu picos acima da adversária, mas em outros instantes veio abaixo na alegria, liberdade e comprometimento. Destaque para a ala 27 que emocionou. Melhor ala dos ensaios técnicos até aqui. Parei com quem descartar a Grande Rio.

Ranking:

1º - Beija-Flor
2º - Vila Isabel
3º - Grande Rio
4º - Viradouro
5º - Mangueira
6º - Mocidade