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Império da Tijuca é a namoradinha do Brasil. Graciosa, bonita, malandra. Apaixonante. Que faz do jeito que você sempre quis. Tanto é que até te cega. Nem precisa fazer diferente, é só fazer o de sempre, daquele jeito. Um encontro com a mulher ideal, mesmo que nem seja o ideal de mulher. Um deslize é abafado pela maravilha do que representa ao todo. A perfeita do conjunto imperfeito. A mulher dos sonhos, que por lá não falha, não deveria ter sido julgada como foi. Em nosso sonho mágico ela foi tão melhor que várias outras. Injustiça. A realidade, essa cruel e sem poesia, não a ofertou o correto imaginado; manter-se na prateleira das melhores. O Império da Tijuca, que tem até apelido carinhoso “imperinho”, conta com a leniência dos amantes. Dá a eles, a hipnose do encantamento de um reencontro do carnaval essencial, aquele da primazia do som e de uma roda de samba feliz. A escola negra, de comunidade, sem os agregados que teimam em querer entrar no território dos amantes. A escola que os maravilha com as homenagens às tradições africanas. Dos sambas empolgantes, dos termos afros. Como não premiam a reminiscência? Acertos tão fabulosos que nos tiram a razão. Abrir mão da razão pela história de amor. Deve valer a pena. Mas dessa vez foi além. Os erros da namoradinha nesse ensaio foram claros e deixaram decepcionados os amantes. O bom samba entoado, e bem, por Pixulé não foi aquilo como esperado. Não é tão bom como o “Batuk”, mas tem valências. E talvez não foi funcional por culpa dos componentes mesmo. Faltou canto, atenção, comprometimento, faltou até conhecer a obra. Ademais, na evolução pode se perceber os desencontros e desordenações. Parece até que não houve interesse em fazer acontecer, em deixar uma carta de apresentação prodigiosa. Uma passagem de chão para esquecer. Sorte que treino é treino e jogo é jogo. Em 2014, a Formiga foi mal no ensaio, e melhorou sensivelmente no dia oficial. Tem coisa para rolar e aposto na melhora. No resto, os quesitos são muito fortes, principalmente nas figuras de Peixinho e Jaçanã, que formam um casal fortíssimo, dos melhores do grupo, e devem rumar às notas dez. A comissão de frente se apresentou com coreografia pautada na letra do samba. Não será repetitiva, aposto e torço. O samba pode mais, e só poderá com a ajuda do material humano do Império. O corpo da escola precisa de um choque de realidade para entrar sólido e dar a mesma virada que deu na última temporada. Plasticamente vai ser bonita. A mono-temática da escola ajuda na construção do Carnaval e facilita o barracão, já pronto há tempos. Uma escola que se fortaleceu ao longo dos anos precisa dar uma resposta no dia 14, caso seja de interesse voltar ao Especial.

A Cubango nunca está de bobeira. Já um pouco cansada de ser a eterna esperança de subir ao espectro das grandes. Tem tudo. Dinheirinho, gente experiente no barracão e fora dele, negritude vigorosa, histórico recente de sambas esfuziantes. Sob égide do trabalho, vai buscando espaço. Possui todos os ingredientes de grande. Falta um carinho dos jurados, talvez um algo a mais. Dá pra ver que falta pouco para acontecer. A Cubango não é namoradinha. Mas poderia ser. Cubango é a realeza. Trabalho com requinte de nobre. Uma nobreza rude, dando surra de ripper na concorrência. Diferente de quase todas da Série A e até do Especial, tem direção de Carnaval. A organização mostra que há comando. Vai no barracão é trabalho adiantado, é carro com 100 esculturas ostentando poderio, dedicação e desejo de ganhar. A bem querência ofertada aos visitantes mostra uma escola segura, tranquila. E o ensaio positivo foi uma transposição clara do que é a Cubango hoje. Segura de si. Sem asseguro externo, e sim, internamente protegida pelos seus. Um equilíbrio transportado à pista sem dificuldades. Canto linear, evolução uniforme, foi a correção personificada em cada componente cubanguista cubangueiro, cubanguense. Comissão de Frente do Roberto de La Costa cheia de aventuras, saltos ousados, agitou e mereceu os aplausos recebidos. Mas está codificada com sempre. Só na avenida para saber o que será de fato. Que seja algo original. Creio que será. O casal é ótimo, desde Caprichosos. Pena que os guardiões portavam adereços gigantescos, tapando a visão de quem estava à margem da pista e nas frisas. Confesso não ter visto quase nada deles. Um amigo argumentou “É para proteger o casal. E o Carnaval é para os jurados” Pensei “Ele deve ter razão”. O público que se contente em ver entre frestas, pagando mil reais na frisa A, ou 5 mil no Especial. Aliás, o Carnaval tem se protegido muito do público, indo na contramão de sua existência. A competição, é bom lembrar, ocorre em todos os níveis. Real Madrid x Barcelona no Bernabeu é competição tanto quanto Olaria x Bonsucesso na Bariri. Do Glamouroso ao modesto. Mas a Cubango, acima de qualquer discussão, foi irrepreensível. Uma reta final um pouco mais apagada que o início e só. Um samba muito funcional e bem feito chegou como um dos melhores do grupo e manteve o rótulo. Preto Jóia e carro de som deram espetáculo. A Cubango mostra extrema serenidade e equilíbrio. Está mega na briga pelo título.

1º - Estácio de Sá
2º - Renascer de Jacarepaguá
3º - Paraíso do Tuiutí
4º - Império Serrano
5º - Cubango
6º - União do Parque Curicica
7º - Alegria da Zona Sul
8º - Caprichosos de Pilares
9º - Inocentes de Belford Roxo
10º - Santa Cruz
11º - Império da Tijuca
12º - Unidos de Bangu
13º - Em Cima da Hora